Mercado Energético
O Bom, o Mau e o Vilão: o melhor “western” do mercado energético
ARTIGOAMBIENTE
Qualquer fã de cinema ou do Clint Eastwood reconhece “o Bom o Mau e o Vilão” como um dos melhores filmes que Hollywood produziu, o qual eu não tive a oportunidade de experienciar. De qualquer forma, acredito que o título descreve perfeitamente o mercado energético atual.
O Mau
Talvez seja bastante inesperado, ousado e disparatado caracterizar as energias verdes como tal e, apesar de concordar com a maioria dos ambientalistas, penso que a execução das suas ideias é inexata.
As últimas décadas têm sido marcadas pelo crescimento da indústria verde e a vontade de adotar medidas ambientais conscientes. A procura por produtos com uma baixa pegada ecológica nunca esteve tão alta. Todavia, é no mercado energético que ambientalistas, com bastante sucesso, aplicam maior pressão. Quer seja o líder do mundo livre, ou adolescentes ativistas, figuras proeminentes de todo o mundo avisam da data-limite de 2030/2050 para salvar o mundo. E o mercado, naturalmente, segue estas tendências, fornecendo a oferta à procura de fontes de energia renováveis. Isto explica a razão da energia fotovoltaica ter a maior taxa de crescimento tanto na Europa como nos Estados Unidos, como indica o Eurostat e o C2ES ( Center for Climate and Energy Solutions), e quase que duplica o seu peso nestes mercados nos últimos dez anos. A energia eólica também tem vindo a aumentar, e em 2020 representou 8,4% de toda a energia produzida nos EUA e 15% na Europa em 2019. Não surpreende, portanto, que as novas energias representem um total de 20% da energia total produzida nos Estados Unidos e 34% na União Europeia. Com o primeiro a prometer ser 100% até 2035 e o segundo até 2050. Contudo, toda esta pressa de implementar uma sociedade livre de emissões de CO2 na produção energética, vem do pensamento que temos um tempo limitado para o fazer.
Ao contrário do que se julga, a comunidade científica está bastante dividida neste assunto. A ideia que temos até 2030/2050 para resolver a crise ambiental, antes que cause danos irreversíveis, foi retirada de um estudo do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Os ambientalistas focam-se na subida de 1,5ºC até 2030, o que poderia ter consequências devastadoras no clima. O problema é que fazer esta análise é interpretar mal o estudo. A subida de 1,5Cº até à data proposta foi identificada como o pior caso possível e requeria triplicar as nossas emissões. Modas atuais mostram exatamente o contrário. De qualquer modo, tal como Aaron Brown, professor de estatísticas na NYU, explica, o alarmismo é inimigo da racionalidade e implementar medidas radicais na economia pode causar estragos irreversíveis. Se procuramos diminuir estas emissões numa data mais sensata como 2100, poderíamos implementar uma transição mais sustentável e próspera. Assistimos os perigos de uma transação rápida e não moderada no caso alemão. Políticas verdes que puxaram para a desnuclearização, deixaram o país com preços recordes de energia e à merce do gás russo. A eletricidade alemã que estava por 139,49€ MWh em outubro vai ser comercializada por 226€ MWh este ano. É incorreto pensar que esta subida se deve somente à desmantelação de centrais nucleares, contudo a existência destes certamente mitigava a crise. E, é claro, que se esta transação fosse efetuado num período de tempo mais alargado, não assistiríamos a esta subida alarmante de preços. Para compreender melhor o relatório em questão recomendava ler o artigo de Aaron Brown na Reason Magazine, uma vez que inclui questões mais técnicas que melhor explicam a nossa realidade.
Independentemente da interpretação do estudo pelo IPCC, a realidade é que tanto os painéis fotovoltaicos como as turbinas de vento, dificilmente são recicláveis. É do problema da eliminação de materiais compósitos que surge a principal dificuldade. Nos Estados Unidos estima-se que 8000 pás das turbinas terminem a sua vida em aterros. Quanto aos painéis solares, é previsto que 78 milhões de toneladas tenham atingido o seu fim até 2050 sem qualquer plano para lidar com o resíduo.
O último grande problema desta indústria é, provavelmente, o mais simples, sem vento, sem sol, não existe produção energética. De forma a compensar esta adversidade transparente, vai ser sempre necessário usar outras fontes de energia mais consistentes, ou então uma infraestrutura complexa capaz de deslocar diferentes fontes de energia, o que pode levar a um aumento dos preços.
O Vilão
Não é surpreendente chamar à indústria de combustíveis fósseis “o vilão”. De certeza que para qualquer protestante ambiental os magnatas do ouro negro devem parecer como Plutão para os romanos.
Mas a verdade é que depender desta fonte energética não é, no longo prazo, sustentável, uma vez que as reservas são limitadas. Estima-se que o petróleo acabe em 50 anos, o gás natural em 53 anos e o carvão em 114 anos, segundo o MET Group.
Apesar de não concordar com a execução atual da transição dos combustíveis fósseis, é evidente que é uma medida necessária e inevitável.
O Bom
Provavelmente não é prudente descrever a energia nuclear como o Clint Eastwood do mercado energético, todavia é exatamente esse papel que representa. Apesar disto, a sua fama e o seu papel atual acarretam mais parecenças com um pistoleiro que sacou tarde de mais, do que com o lendário cowboy.
O maior estigma contra esta fonte de energia advém dos incidentes com centrais nucleares no passado. Chernobyl e Fukushima foram especialmente trágicos e mancharam a reputação das centrais. A realidade é que o primeiro incidente ocorreu há quatro décadas durante a supervisão soviética. Diversos fatores contribuíram para o seu falhanço, mas principalmente deveu-se ao falhanço da economia da união, que teve como consequência a negligência na manutenção e construção e a não priorização de segurança.
Fukushima foi um caso diferente. A falta de cuidado e falta de prevenção em caso de tsunami, numa zona propícia a tal incidente, foi a principal causa, mas tal como o think-tank Carnegie Endowment for International Peace explica, tenha a planta sido devidamente regulada com as melhores práticas no mercado e especialmente desenhada de forma a prevenir acidente em caso de desastres naturais, o acidente poderia ter sido evitado.
A segurança dos trabalhadores das centrais é, também, muitas vezes, posta em causa, especialmente relativo à quantidade de radiação a que estes estão sujeitos. Por ano, estes trabalhadores, legalmente, apenas podem ser expostos a 20mSv. De forma a contextualizar este número, uma tripulação de uma aeronave está sujeita a 9mSv por ano, durante quatro meses os astronautas na estação espacial internacional são sujeitos a 100mSv. O maior nível de radiação detetado numa zona residencial foi no Irão em Ramsar, onde pode chegar a 270mSv por ano e não foram detetados quaisquer riscos superiores de cancro ou outras complicações médicas.
Desmentindo a mentalidade de perigo das centrais nucleares, o que as destaca da concorrência? A maior produção de energia a menores preços e menor produção de desperdícios.
Centrais conseguem produzir enormes quantidades de energia, de forma praticamente contínua a custos reduzidos e estáveis. Por exemplo, uma estação nuclear regular de mil megawatt elétricos consegue gerar oito milhões de MWh por ano, enquanto mil turbinas de vento de um megawatt apenas conseguem gerar dois milhões e meio de MWh anualmente. Adicionalmente, apesar do investimento inicial ser mais acentuado na energia nuclear do que na concorrência, os custos de operação são significativamente mais baixos, portanto, a 3% de desconto, a energia nuclear é consideravelmente mais barata em todos os países. Por exemplo, nos EUA, esta energia custa 43,9 ¢/kWh, enquanto o carvão custa entre 75,1 – 116,2 ¢/kWh e o gás natural 59,6 ¢/kWh (estes dados são uma previsão dos custos para 2022 realizada em 2017). Também é importante referir, que quando se analisa a economia da energia atómica em comparação com as concorrentes, esta é a única que inclui o preço do tratamento de resíduos no seu custo total, ou seja, outra fonte de energia tem custos adicionais indiretos.
Outro mito da energia nuclear é quantidade de resíduos produzidos, que na verdade é muito pequeno, de facto, uma central para fornecer a energia necessária a uma pessoa por um ano, apenas causaria desperdícios do tamanho de um tijolo, do qual, apenas cinco gramas são altamente radioativos. E, se o combustível for reciclado, que entre 94%-97% consegue ser, uma central apenas produz três metros cúbicos de desperdício altamente radioativo por ano. Estes resíduos são depois depositados em repositórios de lixo nuclear, que, erradamente consideramos uma ameaça para a segurança pública uma vez que este lixo se mantém radioativo por milhares de anos, mas na verdade em poucos séculos volta a níveis seguros e no eventual caso de fuga, a quantidade de radiação seria tão baixa que não faria qualquer alteração ao ambiente. Realmente, apesar do ser humano não se aperceber, a radiação é algo inevitável à vida na Terra, estando presente tanto no ambiente como no nosso corpo. Assim, qualquer dose de fuga destes repositórios seriam, em média, quase cinquenta vezes mais baixos do que a radiação que nos rodeia diariamente.
Conclusão
Talvez o nosso pistoleiro nunca saia do salão, se encontre frente a frente com o mau/vilão e saia vitorioso de um duelo intenso, ou talvez eu precise de ver o filme antes de tentar realizar comparações mais profundas. De qualquer forma, as políticas internacionais indicam que o mundo está a afastar-se da energia nuclear, apesar do mundo precisar desesperadamente de energia limpa, contínua e barata. Depois de analisar o mercado energético e de ter comparado as diferentes fontes de energia, pareceu-me obvio que a solução é nuclear, contudo estigmas criados por décadas de campanhas antinuclear claramente influenciaram a população geral. Partindo deste ponto, com este artigo pretendi desmentir preconceitos e argumentar a favor da energia nuclear não só como uma opção, mas como a alternativa definitiva aos combustíveis fosseis, trazendo simultaneamente alguma ambiguidade ao messias que são as energias verdes.
Este artigo representa exclusivamente a visão pessoal do seu autor.