Eleições americanas: o espetáculo e fenónemo mundial
ARTIGOPOLÍTICA
2024 é um dos anos abençoados com o grande fenómeno mediático que são as eleições americanas. O mundo no dia 5 de novembro aguarda um resultado, temendo como será o seu desfecho. Este ano, as eleições são dignas de serem confundidas com um episódio de uma sitcom genérica ou de um sketch do Saturday Night Live, devido à falta de seriedade notória ao longo dos diversos eventos das campanhas, assim como, pelo contexto e reviravoltas que temos assistido.
Contamos com a presença do ex-presidente, Donald Trump, que está indiciado em diferentes processos criminais, e a atual Vice-Presidente, Kamala Harris, que aceitou as luvas entregues pelo Presidente Joe Biden após a sua desistência. Desde os confrontos legais de Trump à constante troca de insultos, estas eleições são tão marcadas pelo tumulto, como pela dificuldade de prever quem sairá vencedor.
A importância destas eleições é clara. Quem sair vencedor definirá as políticas nacionais e o rumo relações internacionais. São estas últimas que, cada vez mais, se tornam mais relevantes no contexto geopolítico. Neste momento, a Europa e o Médio Oriente têm servido de palco para diferentes conflitos bélicos, tendo os Estados Unidos da América (EUA) um papel e uma intervenção fulcral.
Os EUA têm uma presença central na dinâmica internacional, na medida em que são das maiores potências bélicas no mundo, são um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, um dos países fundadores da NATO e têm fortes relações diplomáticas com quase todos os países do mundo. Desta forma, o sentido de grandiosidade que muitas vezes é autointitulado, acaba por encontrar tração visto que os EUA têm vindo a participar ativa e nos eventos históricos contemporâneos. Não é, certamente, uma hipérbole referir que as eleições americanas definirão (tal como têm definido desde a 2ºGuerra Mundial) o desenlace dos diversos conflitos armados, bem como, o ambiente de cooperação internacional.
A influência americana no contexto internacional é clara no debate eleitoral entre Trump e Harris. Quando a moderadora Linsey Davis mencionou o conflito Israel-Hamas, questionando o ex-presidente americano sobre o que faria para amenizar as tensões e promover um ambiente propício à libertação de reféns, que incluem cidadãos americanos, Trump respondeu que se fosse titular do maior cargo executivo do mundo, o ataque nunca teria acontecido.
De seguida, apresentou a sua posição quanto ao conflito: “Israel tem o direito de se defender contra ataques”. Adicionalmente, apontou o dedo à administração do Presidente Joe Biden, afirmando que, como foram levantadas as sanções por si impostas, o Irão conseguiu financiar entidades não governamentais como o Hamas e o Hezbollah. Mas como uma reposta moderada não promove o show americano, reforçou várias vezes que Kamala Harris odeia Israel.
Por sua vez, quando Harris foi questionada sobre o mesmo tópico, afirmou que seria necessário um acordo de cessar-fogo com o intuito de resgatar os reféns. Adicionou, ainda, que tem de ser concluída uma solução entre os dois estados, havendo proteção e segurança em igual medida para os cidadãos israelitas e palestinos. A Vice-Presidente foi ao encontro da opinião de Donald Trump quando defendeu que Israel tem o direito de autodefesa perante ataques. Finalmente, negou a acusação de Trump, dizendo que sempre apoiou Israel, golpeando-o com a acusação de que é particularmente fraco no que toca a políticas internacionais e segurança nacional, e que admira ditadores, aspirando tornar-se num.
Mantendo o foco no tema de conflitos internacionais, o moderador David Muir introduziu na discussão a guerra na Ucrânia.
Trump defendeu que devia haver um acordo entre os Presidentes Zelensky e Putin, de modo a terminar a guerra. Acusou, novamente, a administração de Biden de não ter conduzido os esforços suficientes para que o conflito terminasse. Pautou, ainda, o seu discurso com a afirmação e promessa que, se fosse eleito, conseguiria acabar com o conflito, mesmo antes de estar em efetividade de funções.
Harris, por sua vez, não perdeu tempo em alvejar Donald Trump com acusações de que apenas conseguiria cessar o conflito se desistisse de apoiar a Ucrânia como frente vencedora. A Vice-Presidente, referiu que se encontrou com o Presidente Zelensky e que partilhou planos de como é que se poderia defender contra os ataques lançados pela Rússia, contrariamente ao que tinha sido apontado pelo seu oponente. Reforçou, ainda, a ideia de que o ex-presidente tem o foco distorcido e, que o mesmo está mais interessado em favorecer os inimigos porque adora líderes fortes, em vez de dar primazia à democracia.
Alterando o foco para uma vertente mais global, é a opinião dos especialistas que as relações internacionais são de uma natureza delicada que tem de ser encarada como uma antiguidade de cristal. A complexidade e história que estão associadas à diplomacia não devem ser encaradas como bens garantidos.
Donald Trump, contrariamente ao que afirma, não teve o desempenho mais exemplar no que toca a políticas estrangeiras. Um dos exemplos mais claros que se poderá oferecer será o facto dos palestinos, em 2017, declararem que iriam cortar qualquer relação com o país da liberdade, quando o ex-presidente reconheceu Oeste de Jerusalém como território israelita.
Trump, através do seu discurso profundamente nacionalista, compromete a união que deveria resultar da ONU. Através destas afirmações retira autoridade ao Secretário-Geral, António Guterres, e à própria organização internacional, que visam exatamente a harmonização das vontades dos Estados em nome da globalização e proteção de direitos fundamentais.
Relativamente à guerra na Ucrânia, pensa-se que não será possível uma vitória total de nenhuma das partes, sendo o seu desfecho mais realista um acordo entre os dois países.
Aquilo que podemos concluir das palavras de Trump é que o cessar do conflito dever-se-ia por um acordo promovido pelo 45º presidente dos EUA. Nesse caso, teoricamente, a Ucrânia teria de ceder território já ocupado pela Rússia, em troca da promessa de apoio internacional, caso a Rússia tentasse outra invasão. Parece um acordo desequilibrado, mas penso que seria o que o Ex Presidente tentaria promover.
Por sua vez, Kamala Harris, tem uma postura menos volátil e mais comedida em contextos internacionais. A sua opinião sobre Israel, como referido anteriormente, não diverge da de Trump, no sentido em que Israel tem o direito de se defender contra ataques. Porém, Harris acrescenta que é de alto relevo a maneira e a forma como Israel se defende.
A CBS NEWS citou a Vice-Presidente num artigo de 22 de julho de 2024, tendo esta referido que Israel deve realizar mais esforços para proteger cidadãos inocentes. Nesse mesmo artigo de autoria de Haley Ott, é ainda citado o antigo diretor do Escritório de Assuntos Político-Militares do Departamento de Estado dos EUA, Josh Paul, tendo este afirmado que na administração de Biden não haveria ninguém que defendesse mais a necessidade de um cessar-fogo e o tratamento humano dos palestinos que Harris.
No que toca à guerra na Ucrânia, a sua posição ao longo dos tempos não se afasta muito do que foi defendido no seu discurso no debate eleitoral. Sempre defendeu a Ucrânia e o apoio dos EUA.
Tendo por base o já exposto, as diferenças entre os candidatos a nível internacional são significativas.
Donald Trump adotou uma postura de arrogância e desconsideração pela fragilidade das relações internacionais, é tão cuidadoso como um rinoceronte perto de uma vitrine de cristal-posição preocupante para nós espectadores.
Kamala Harris, porém, apesar de nas últimas semanas ter apostado na retaliação aos comentários infantis de Trump, é sempre uma alternativa muito mais graciosa e moderada que o ex-presidente. Tornou desde sempre muito claro que a administração de Biden não a define, vendo-se mesmo um certo desvio de algumas posições do atual Presidente.
Concluindo, não apresentei uma opinião de quem sairá vencedor, mas não era esse o ponto fulcral do texto. Provar o impacto internacional das eleições americanas e demonstrar qual dos candidatos é que tem políticas mais apelativas no domínio extranacional é que era a minha intenção. Nesse sentido, resta-me reforçar a importância internacional destas eleições, reforçando a ideia de qua ainda que sejamos terceiros às eleições americanas, pela sua extrema relevância para o tecido internacional, nunca seremos alheios às mesmas.