O Sonho de um Acordo ao Centro

As Eleições do Partido Socialista estão já aí à porta, quais são as implicações para o Centro político da vitória de cada candidato?

ARTIGOPOLÍTICA

Gonçalo Torres

12/13/20234 min read

O filme da constante crise política atingiu o seu desfecho com a demissão de António Costa e a confirmação de que o Presidente irá dissolver a Assembleia da República. Os escândalos foram muitos, as demissões foram mais, mas a instabilidade, a crise e a precariedade perduram. Este é o verdadeiro legado de António Costa como Primeiro-Ministro, e se queremos alguma mudança, será preciso um milagre e José Luís Carneiro.

Crise na Habitação, Crise na Saúde, Crise na Educação, Crise nos Salários, Crise na Burocracia Estatal... Portugal já teve dias melhores e Governos melhores. António Costa prometeu-nos estabilidade e responsabilidade absoluta, mas ofereceu ilusões e desilusões.

Pedro Nuno Santos representa a ala mais à esquerda do PS e a continuação da mentalidade de governação que perdurou no Governo do Primeiro-Ministro demissionário e no governo de José Sócrates. Um PS que se alia à extrema-esquerda, com os resultados notados.

A crítica de um PS “dono de tudo”, é uma ideia repetida pela oposição para descrever um PS que beneficia familiares, distorce o espírito republicano e sai impune. Um PS que tem as garras na sociedade portuguesa e influência nos setores certos. Este é o PS que Pedro Nuno Santos representa.

Pedro Nuno Santos também já foi alvo de várias controvérsias, acabando por ter sido afastado do seu cargo como Ministro das Infraestruturas. Apesar de ser uma figura manchada por controvérsias, tudo indica que a sua influência dentro do partido, que cultiva há tempo suficiente, vai permitir que ganhe a corrida para chefiar a lista do Partido Socialista nas próximas Legislativas.

António Guterres demitiu-se em dezembro de 2001, popularizando a expressão “pântano político”. Desde então, a direita só governa quando é para limpar o pântano socialista. A direita governa apenas para repor a normalidade após uma gestão irresponsável de governos socialistas. Aconteceu em 2001 com António Guterres, aconteceu em 2011 com José Sócrates e acontecerá em 2024 com António Costa, ou talvez não.

Em 2022, o Partido Socialista sai vitorioso e com uma maioria absoluta nas legislativas devido ao medo generalizado de um Governo de direita aliado ao Chega. Será possível que, apesar da bagagem de controvérsias de Pedro Nuno Santos, o medo do Chega dê possibilidades ao PS de voltar ao Governo?

A oposição de direita está bastante enfraquecida e as sondagens mais recentes não são favoráveis. Dificilmente PSD, IL e CDS conseguirão uma maioria, mesmo com o apoio do PAN. Montenegro já afirmou que não se aliaria a Ventura, mas pode precisar dele para viabilizar um governo, o que requer fazer algumas cedências. Este panorama da direita pode ressuscitar medos da extrema-direita e entregar novamente a governação do país à esquerda.

Um PS que surge após uma das governações mais instáveis, incapazes e enfraquecidas da história da nossa democracia, será um possível vencedor das eleições. É um PS verdadeiramente impune de consequências. Esta é uma realidade e um panorama político plausível para Portugal. É uma degradação da nossa democracia.

Lembremos que este é o segundo Primeiro-Ministro socialista seguido que se demite pelo seu envolvimento em casos polémicos com a Justiça, lembremos as demissões de ministros e membros do Governo a que temos assistido, lembremos o estado das nossas urgências, lembremos o estado das nossas escolas, lembremos que cada ano que passa a economia portuguesa diverge da Europa e o PIB per capita afunda para a cauda europeia. O que é que podemos dizer da nossa Democracia se o partido responsável por tudo isto consegue voltar a ser Governo?

Portugal e o Partido Socialista precisam de um novo caminho. Talvez esse caminho seja José Luís Carneiro. Ministro da Administração Interna do Governo de António Costa, passou toda a legislatura sem qualquer suspeita de caso ou casinho. Representa a ala moderada do PS e afirma estar disposto a viabilizar um Governo do PSD.

Esta solução não deverá ser a mais popular dentro do partido, e pode resultar num aumento de popularidade dos partidos mais extremistas, mas é possivelmente a melhor solução para o PSD de Montenegro, uma vez que passa ao lado de uma situação difícil com Chega.

Penso que a reação do eleitorado em 2024 será muito diferente dependendo do cabeça de lista socialista. Se for o Pedro Nuno Santos, o eleitorado saberá que não existe um hipótese de um Governo social-democrata ser viabilizado pelo Partido Socialista, temerá a influência da extrema-direita e votará em massa no PS, tal como em 2022. Se for o José Luís Carneiro, a possibilidade de um entendimento ao centro acabará por diminuir a preocupação com o Chega e um acordo poderá ser encontrado.

Considero, portanto, que as eleições socialistas vão ser determinantes para o contexto político e para o eventual desfecho das próximas Legislativas. Veremos uma continuação do legado e governação de António Costa ou veremos uma aproximação do centro?

A ideia de uma aproximação PS/PSD, apesar de ser uma situação propícia a instabilidade e confrontos entre os dois partidos, também tem a chance de harmonizar e despolarizar a política portuguesa.

Talvez estes sejam sonhos utópicos da juventude a entrar agora no mundo político, mas um Portugal a ser o exemplo da despolarização é um país que me orgulharia. Todavia, com tudo o que concluí que está a depender das eleições internas do PS é infeliz que Pedro Nuno Santos seja o candidato com maior hipótese de ganhar. Ainda assim, conto com o bom senso do Partido Socialista para mudar de caminho, só o tempo dirá se pus a minha fé numa causa perdida.

Este artigo representa única e exclusivamente a opinião do seu autor, não representando no todo ou em parte a opinião da Católica Policy Society.